Polícia mexicana chega ao local onde estavam os 72 corpos, em San Fernando, Tamulipas (AFP)
Os 72 corpos encontrados no último dia 24 em um rancho no estado mexicano de Tamaulipas, quatro deles de brasileiros, somam-se a um número muito superior de mortos pela chacina no país. Cerca de 28.000 pessoas já morreram com a violência do narcotráfico desde 2006, muitas delas imigrantes ilegais.Nos últimos anos, o México vem assistindo a uma escalada de violência por conflitos das forças de ordem com os cartéis narcotraficantes. Segundo a polícia mexicana, casos em que os cartéis se aproveitam de imigrantes ilegais não são raros. Os grupos paramilitares tentam aproveitar do desejo dos estrangeiros de atravessar a fronteira para convencê-los a transportar drogas para os EUA.
Atualmente, a chacina é considerada a maior de todos os tempos. Somente em 2010, esta foi a terceira vez em que autoridades descobriram valas clandestinas com dezenas de corpos, vítimas de narcotraficantes. Houve outros dois massacres violentos: um em Guerrero, com 55 mortos, e outro em Monterrey, com 51 vítimas.
Em 2009, a Comissão de Direitos Humanos estimou que 10.000 imigrantes, a maioria deles centro-americanos, foram sequestrados no México. Em todos os casos, os sobreviventes identificaram os captores como membros do cartel Los Zetas. Integrantes do grupo também são responsabilizados pelo assassinato do prefeito da cidade de Santiago, Edelmiro Cavazos, no Estado de Nuevo León.
Já o caso mais recente chamou a atenção do Brasil por envolver vítimas brasileiras - além de equatorianos, hondurenhos e salvadorenhos. De acordo com o consulado do Brasil no México, ainda não se pode afirmar nada sobre a identidade dos brasileiros mortos ou sua ilegalidade no país. Também não se poderia descartar uma possível ligação com os narcotraficantes.
O equatoriano Luis Fredy Lala foi ferido à bala
Narcotráfico - A fronteira entre o México e os Estados Unidos é um dos mais movimentados pontos de passagem de drogas do mundo, apesar de mais de 30.000 agentes de segurança participarem da operação contra o crime organizado no país. Tamaulipas, localizado a noroeste do país, na fronteira, é cenário de fortes disputas entre o Cartel del Golfo e seus antigos aliados, Los Zetas, liderados por soldados de elite desertores, acusados pelas autoridades de cometer diversos massacres e de realizar sequestros em massa.
Los Zetas foi originalmente formado para trabalhar para o Cartel del Golfo em uma ação "antiguerrilha" contra os zapatistas na década de 1990, ao lado dos EUA e de Israel. Hoje, atuam hoje de forma independente, promovendo operações complexas de narcotráfico que demandam armamentos sofisticados. Seus integrantes traficam armas, promovem sequestros, recolhem os resgates e cometem assassinatos. Suspeita-se que eles sejam financiados por grandes empresas mexicanas.
Estima-se que o narcotráfico mexicano, quase todo direcionado aos EUA, movimente cerca de 20 bilhões de dólares e que dois terços das cerca de 350 toneladas de cocaína que entram no país anualmente cheguem via México. A solução encontrada pelo presidente mexicano Felipe Calderón foi colocar militares nas ruas. Em meados de 2008, eles eram mais de 30.000. Analistas dizem que a medida incentivou ainda mais a violência dos cartéis, que se sentiram ameaçados ou simplesmente quiseram reforçar seu poder.
Cerca de 90% das armas usadas pela polícia mexicana vêm dos Estados Unidos, o que facilita a chegada também às mãos dos vários cartéis, apesar de a legislação mexicana exigir que o Ministério da Defesa aprove todas as importações. Armas destinadas à polícia ou às forças armadas são facilmente levadas até os traficantes por meio de agente corruptos. Mas o trânsito ilegal também é forte na fronteira. Em março de 2009, as autoridades americanas anunciaram um programa de 184 milhões de dólares para colocar mais 360 agentes em postos fronteiriços.
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